segunda-feira, 2 de agosto de 2010

INVOLUÇÃO, SELVAGERIA, DESGRAÇAS - EIS O RETRATO DA EDUCAÇÃO DO BRASIL



Conforme reportagem publicada pela Tv Record em 02 de agosto
professores relatam casos de violência de alunos em escolas do Rio
Denúncias fazem parte de dossiê produzido por sindicato.
Educadores, doentes, são afastados e vivem a base de remédios.

A professora E., de licença médica, foi ameaçada
de morte por aluno (Foto: Aluizio Freire)O grupo sacode as grades de ferro, lança bombas (tipo cabeça-de-negro) nos corredores, que explodem e estremecem as paredes do prédio. Grita, simulando uivos de animais, xinga e faz ameaças a quem ousa entrar na sua frente. Parece rebelião em um presídio, mas são atos de alunos rebeldes, relatados por professores de ensino médio e fundamental em um detalhado dossiê sobre violência nas escolas do Rio.

Mas profissionais da área já preparavam um amplo seminário sobre a violência nas escolas. Entre os temas do evento, que vai reunir educadores de vários estados no dia 25 de agosto na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), será discutido a Síndrome de Burnout, doença que tem afastado muitos profissionais do mercado de trabalho por estresse excessivo.

De acordo com estudos psiquiátricos, a Síndrome de Burnout caracteriza tensão emocional crônica provocada pelo trabalho estressante. Como o nome diz pouca coisa, só o quadro clínico do paciente pode revelar a gravidade e a evolução da doença.

"A gente não pode mais fechar os olhos para isso. Existem muitos professores traumatizados, doentes, abandonando a profissão depois de receberem ameaças de morte. Isso é muito grave. Não culpamos apenas os alunos, discriminados e vítimas de outras questões sociais. Mas a instituição, as secretarias de educação precisam oferecer um suporte psicológico para os alunos e uma estrutura de apoio para que os educadores não fiquem à mercê desse tipo de violência, que está sendo banalizado”, afirma a coordenadora do estudo, Edna Félix, que representa o Sindicato dos Profissionais da Educação (Sepe-RJ).

De acordo com o Sepe, as escolas da Região Metropolitana do Rio concentram os casos mais graves de violência. Segundo levantamento realizado pela entidade, somente na capital existem mais de 200 unidades de ensino situadas em áreas consideradas de risco, o que indicaria o alto índice dos casos de agressividade dentro das salas de aula.

Uma das vítimas dessa violência é a professora de História Nádia de Souza, 54 anos, 23 de magistério. Ela está de licença médica desde o dia 30 de junho de 2009, acometida de transtornos emocionais, de acordo com laudo entregue por sua médica na terça-feira (5), após consulta no Serviço de Psiquiatria da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, confirmando a necessidade de afastamento profissional da paciente.

Nádia, com síndrome do pânico, não consegue
passar na porta de uma escola (Foto: Aluizio Freire)Professora de História e Sociologia, pós-graduada em História da África, artista plástica e escritora, com dois livros publicados, Nádia lecionava na Escola Municipal Deodoro, na Zona Sul do Rio, até ser ameaçada por um aluno, no ano passado.

“Vou te quebrar”, disse um aluno ao ser informado que estava em recuperação. Sem conseguir mais ministrar suas aulas, entrou em licença médica.

Os primeiros sintomas de pânico surgiram durante uma viagem de metrô. À medida que o vagão ficava lotando aumentava seu desespero. Quando saiu estava em prantos, sufocada, com taquicardia. Precisou ser socorrida.

A paixão pelas crianças, o prazer de ensinar, se transformaram em aversão. “Dói muito a gente não poder fazer uma coisa para a qual se dedicou a vida inteira. É frustrante, é o fracasso”, revela Nádia.

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