sábado, 20 de março de 2010

O QUE É O TEMPO?


Tempo é um dos grandes mistérios do Universo; é o tipo de coisa que todo mundo pensa que sabe o que é. Santo Agostinho, (354-430), filósofo de grande influência no pensamento cristão, costumava falar o seguinte sobre o assunto: “Se ninguém me perguntar o que é tempo eu sei o que é, mas se eu desejar explicá-lo a quem me indaga, eu não sei”. A metafísica realista usa a imagem do rio para representar o tempo como algo que passa sem cessar: a nascente é o passado, o lugar onde me encontro é o presente, a foz é o futuro. No entanto, numa análise mais profunda, perceberemos que a imagem do rio não corresponde ao escoamento do tempo. Para que correspondesse deveria estar invertida, pois a água que está na nascente é aquela que ainda na passou pelo lugar onde estou e, portanto, ela é, para mim, o futuro e não o passado; a água que está na foz é aquela que já passou pelo lugar onde estou e, portanto, para mim, é o passado e não o futuro.
No conto Zadig ou o destino, de Voltaire, um dos personagens, o grande mago do reino de Babilônia, propôs alguns enigmas aos candidatos a trono de rei, para governar juntamente com a rainha Astartéia. Seria a fase final aos candidatos que combatera na arena e derrotara certo número de combatentes O mago propôs o seguinte enigma (o primeiro): “Qual é, de todas as coisas do mundo, a mais longa e a mais curta, a mais rápida e a mais lenta, a mais divisível e a mais extensa, a mais negligenciada e a mais irreparavelmente lamentada, que devora tudo o que é pequeno e que vivifica tudo o que é grande?” Uns disseram que seria a fortuna, outros a terra, outros a luz. Zadig acertou dizendo que seria o tempo. “Nada é mais longo (…) pois que é a medida da eternidade; nada é mais curto, pois que falta a todos os nossos projetos; nada mais lento para quem espera; nada mais rápido para quem desfruta a vida; estende-se, em grandeza, até o infinito; divide-se, até o infinito, em pequenez; todos os
homens o negligenciam, todos que lamentam a perda; nada se faz sem ele; faz esquecer tudo o que é indigno da posteridade, e imortaliza as grandes coisas.”
Platão argumenta que o tempo (chrónos) “é a imagem móvel da eternidade (aión) movida segundo o número” (Timeu, 37d). Partindo do dualismo entre mundo inteligível e mundo sensível, Platão concebe o tempo como uma aparência mutável e perecível de uma essência imutável e imperecível - eternidade. Enquanto que o tempo (chrónos) é a esfera tangível móbil, a eternidade (aión) é a esfera intangível imóbil. Sendo uma ordem mensurável em movimento, o tempo está em permamente alteridade. O seu domínio é caracterizado pelo devir contínuo dos fenômenos em ininterrupta mudança. Posto que o tempo (chrónos) é uma imagem, ele não passa de uma imitação (mímesis) da eternidade (aión). Ou seja, o tempo é uma cópia imperfeita de um modelo perfeito – eternidade. Isso significa que o tempo é uma mera sombra da eternidade. Considerando que somente a região imaterial das formas puras existe em si e por si, podemos dizer que o tempo platônico é uma ilusão. Ele é real apenas na medida em que participa do ser da eternidade.

“O tempo é uma mancha na eternidade” (Antonio Oliveira)

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