sábado, 27 de março de 2010

O JULGAMENTO DE FRINÉIA


Olaco Bilac

Mnezarete, a divina, a pálida Frinéia, comparece ante a austera e rígida assembléia do Areópago supremo. A Grécia inteira admira aquela formosura original, que inspira e dá vida ao genial cinzel de Praxíteles, de Hiperides à voz e à palheta de Apeles. Quando os vinhos, na orgia, os convivas exaltam e das roupas, enfim, livres os corpos saltam, nenhuma hetera sabe a primorosa taça, transbordante de Cós, erguer com maior graça, nem mostrar, a sorrir, com mais gentil meneio, mais formoso quadril, nem mais nevado seio. Estremecem no altar, ao contemplá-la, os deuses, nua, entre aclamações, nos festivais de Elêusis...Basta um rápido olhar provocante e lascivo:quem na fronte o sentiu curva a fronte, cativo...Nada iguala o poder de suas mios pequenas: basta um gesto, - e a seus pés roja-se humilde Atenas...Vai ser julgada. Um véu, tornando inda mais bela sua oculta nudez, mal os encantos vela, mal a nudez oculta e sensual disfarça. Cai-lhe, espáduas abaixo, a cabeleira esparsa...Queda-se a multidão. Ergue-se Eutias. Fala, e incita o tribunal severo a condená-la:"Elêusis profanou! É falsa e dissoluta, leva ao lar a cizânia e as famílias enluta! Dos deuses zomba! É ímpia! é má!" (E o pranto ardente corre nas faces dela, em fios, lentamente...)"Por onde os passos move a corrupção se espraia, e estende-se a discórdia! Heliastes! condenai-a!"Vacila o tribunal, ouvindo a voz que o doma...Mas, de pronto, entre a turba Hiperides assoma, defende-lhe a inocência, exclama, exora, pede, suplica, ordena, exige... O Areópago não cede."Pois condenai-a agora!" E à ré, que treme, a branca túnica despedaça, e o véu, que a encobre, arranca...Pasmam subitamente os juizes deslumbrados,- Leões pelo calmo olhar de um domador curvados: nua e branca, de pé, patente à luz do dia todo o corpo ideal, Frinéia aparecia diante da multidão atônita e surpresa, no triunfo imortal da Carne e da bleza.

QUEM FOI FRINÉIA?

Demasiado bela para ser condenada à morte»Das mulheres da Antiguidade consideradas maravilhas de beleza poucas houve que pudessem comparar-se a Aspásia, Lais, Tais, Frinéia e algumas mais.Frinéia um desses prodígios de carne viva, a escultural Frinéia nasceu em Tespia, na Beócia, no século IV antes da nossa era. O seu verdadeiro nome era Menesarete. Deve o apelido de Frinéia ao tom pálido da sua tez.Por causa da beleza com que a Natureza a dotou, Frinéia reinou muito tempo sobre Atenas. Em sua casa recebia os mais brilhantes espíritos, as glórias mais puras do seu tempo.Aos 18 anos tinha atingido uma tal perfeição, tão grande plenitude de formas, que, mesmo naquela Grécia em que a beleza feminina era moeda corrente, se tornou famosa. Os seus amantes, tanto os antigos como os novos, estavam todos de acordo em afirmar que os mais magníficos produtos da arte grega, a «Sosondra», de Calamis, a «Afrodite Pandemos», de Scopas, a «Juno» de Euphoranor, não igualavam a harmonia de proporções, os esplendores de Frinéia.A arguta beldade, entretanto, ao contrário das outras mulheres, evitava usar túnicas abertas ao lado e nunca ia aos banhos públicos «com receio — dizia — de embotar a curiosidade dos outros».Atordoada por uma tão rápida ascensão, muitas vezes Frinéia perdeu o senso da realidade. Contava-se em Atenas que Tais, numa noite de orgia, colocara na mão de Alexandre a tocha que devia atear o incêndio de Persepolis… Frinéia, menos para conservar a sua popularidade da que para diminuir o esplendor da rival, teve uma ideia de génio: Alexandre havia destruído Tebas. Ela ofereceu-se para a reconstruir à sua custa. — Tais incendiava as cidades — proclamava — Eu quero reconstruí-las!Na sua proposta, porém, havia uma condição essencial: Na porta principal de Tebas seria posta esta inscrição — Alexandre destruiu-a; Frinéia restaurou-a.Um dia, na multidão dos seus admiradores, Frinéia avistou um rapaz de aspecto tímido e doce. Tratava-se do célebre escultor Praxíteles. No dia seguinte foi ao seu atelier e, pela primeira vez na vida, posou para um artista. Praxíteles executou sobre esse modelo escultural a famosa estátua de Afrodite. E, já apaixonado, o artista escreveu no pedestal: — Praxíteles viu Frinéia e traçou a imagem do amor.

Um comentário:

  1. SÓ AGORA ENTENDI PORQUE ADELINO MOREIRA INCLUIU NA LETRA DA MÚSICA "ESCULTURA" O NOME DE FRINÉIA...

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